Você sabia que esse mês aconteceu a Semana da Cultura Nordestina? No dia 2 de agosto é comemorada a Semana da Cultura Nordestina em homenagem a morte de Luiz Gonzaga, figura emblemática que se tornou porta-voz da cultura do Nordeste, além de ser considerado o Rei do Baião.
Trouxemos essa temática com o intuito de trazer conhecimento sobre uma técnica e divulgar a literatura de Cordel, tão conhecidas do nordeste.
Trabalho de Renoir Santos, um dos nossos professores na Casa Locomotiva
Literatura de Cordel
Literatura de Cordel ou Cordel, é uma tradicional narrativa literária do Nordeste brasileiro, sendo uma manifestação de pensamento, assim como um elemento da cultura e um propagador das tradições da região.
O folheto impresso chegou no Brasil no séc. 18 com os colonizadores e rapidamente se misturou com diversas culturas regionais, formando um nova forma de poesia popular. Escrito em versos, muitas vezes rimados, contava histórias dos folclores regionais de maneira simples e com alta propagação. Seu nome vem da maneira como eram vendidos, pendurados em uma corda, um espécie de varal. Daí o nome: cordel.
Outras temáticas desse gênero são o cotidiano, a cultura popular, a região onde é produzido, temas políticos, críticas sociais e através deles são difundidas ideias, fazendo o cordel se tornar um meio didático e educacional. Sua linguagem é popular, oral, regional e informal. Os poetas Leandro Gomes de Barros e João Martins de Athayde estão entre os principais autores do passado.
Carlos Drummond de Andrade ainda diz:
"A poesia de cordel é uma das manifestações mais puras do espírito inventivo, do senso de humor e da capacidade crítica do povo brasileiro, em suas camadas modestas do interior. O poeta cordelista exprime com felicidade aquilo que seus companheiros de vida e de classe econômica sentem realmente. A espontaneidade e graça dessas criações fazem com que o leitor urbano, mais sofisticado, lhes dedique interesse, despertando ainda a pesquisa e análise de eruditos universitários. É esta, pois, uma poesia de confraternização social que alcança uma grande área de sensibilidade"
A literatura de cordel é muito conhecida por suas xilogravuras, as quais ilustram os poemas. Essa técnica se desenvolveu com o cordel e é muito usada, já que a matriz do desenho é feita uma vez e é possível o imprimir inúmeras vezes.
Xilogravura
Quase como um carimbo. A técnica consiste em entalhar um desenho na madeira com auxílio de objeto cortante (goiva) e depois com um rolinho de borracha passado na tinta, passar sobre a madeira (matriz). Em seguida, a parte em que fica a gravura é colocada em contato com o papel. Após alguns minutos, retira-se a madeira, que deixa a imagem "carimbada" no local e é isso! Essa técnica foi inventada na China, passou pela revolução industrial ilustrando de forma mais barata livros, até que chegou em Portugal e enfim no Brasil, se popularizando através dos cordeis.
Ao escrever e imprimir histórias, a xilogravura e o cordel nordestino se tornaram um só elemento e se transformaram em uma linguagem de expressão, contando e documentando uma história. Quase todos os xilógrafos populares brasileiros provêm ou têm influência do cordel. Gilvan Samico, Abraão Batista, Amaro Francisco, José Costa Leite, José Lourenço e J. Borges estão entre os principais xilógrafos brasileiros. Entre eles o artista J. Borges.
J. Borges é um famoso artista nordestino conhecido por suas xilogravuras e seus cordéis. Começou o trabalho com xilogravura para ilustrar suas histórias em cordéis, e sua arte representa o cotidiano do cangaço, o amor, a religiosidade popular, entre outros, sempre ligados ao povo nordestino.
Hoje podemos ver ambas influenciando trabalhos de vários artistas como Tami Lemos e Flora Ramos.
Trabalhos de Flora Ramos:
Trabalhos de Tami Lemos:
A influência da estética da xilogravura e do Cordel no trabalho de Temi Lemos vem de sua família e principalmente de seu avô. Vindos de Pernambuco, seu avô sempre foi apaixonado por arte, encontrando graça no fazer artístico e nas pinturas. Não aceito na escola de artes de Pernambuco, levou a vida focando em sua família, largando a pintura. Somente depois de idoso, em decorrência de um AVC, a arte o resgatou. Voltou a pintar e a retratar paisagens nordestinas como forma de terapia. Para Tami, a estética acaba ficando subentendida em seu estilo, mesmo que não pareça com as pinturas de seu avô, são para ela uma forma de manter o legado dele vivo e uma maneira de homenageá-lo através de seu trabalho.
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